Romário de Souza Faria: Uma das esperanças de belos gols pró povo brasileiro. |
R - Vamos ser diretos: Como é que você como
um deputado federal largou tudo para comentar o Pan? Você não deveria estar em
Brasília?
Romário - Ótima pergunta. Eu vim ao
México comentar futebol por que
é viável. Não estou roubando ninguém. Posso ter licença sem remuneração como
deputado federal. Como todos tiram. Estou trabalhando em várias frentes em
Brasília. Visitei 11 estádios dos 12 que servirão para a Copa do Mundo no
Brasil. Fiz projetos para amparar crianças e adolescentes com síndrome de Down.
Estou empenhado nas luta contra a droga e em projetos de apoio aos dependentes
químicos. Ajudo nos projetos para tentar tirar o crack das comunidades
carentes. Trabalho demais. E tenho direito à licença não remunerada. Foi o que
fiz. Vim para o México para fazer o que eu sei: comentar futebol pela TV
Record. Vou passar a minha experiência de mais de 25 anos. Ficarei ausente 15
dias e não receberei por 30. 15 dias a mais sem receber dinheiro público. Por
que acho justo. Tenho direito, mas é a minha maneira de compensar a minha
ausência de Brasília. Todos os deputados federais exercem esse direito. Eu não
posso por que sou o Romário? Não tem essa! Minha vida é transparente, limpa.
E vou dizer mais. Com o salário de deputado
federal apenas, não consigo dar o conforto que a minha família merece. Por isso
não serei hipócrita de dizer não a um trabalho que posso conciliar sem
atrapalhar minha missão como deputado. Além disso, eu estou aqui no México, mas
meus funcionários estão trabalhando em Brasília. E no meu escritório do Rio. O
meu rádio não para de tocar. Não estou aqui de férias no México. Trabalho e
trabalho pra c...! Sou honesto, limpo. Ninguém tem o que dizer de mim. Sai de
licença sem remuneração para trabalhar por que tenho o direito.
R - Esta visão que muita gente tem de
política é verdadeira? Nossos políticos são corruptos?
Romário - Vou ser bem sincero com você.
Conheço para valer uns 20, 25 deputados em Brasília. Posso falar que pelo menos
a metade não merece confiança. Tem gente séria, mas há muito pilantra por lá. Cada
um segue o seu caminho. Descobri que é possível sim trabalhar sem se sujar com
a corrupção. Sem receber 10% de comissão. Sem armar esquemas para receber
propina. Não sou bobo e muito menos ingênuo. Sei o que acontece. Só se corrompe
quem quer. A minha opção é trabalhar de forma honesta. Me encontrei na
política. Peguei gosto. Sinto que há muito para fazer pelo País. Basta se
empenhar, querer trabalhar.
Política não é só roubar, como querem alguns.
Acompanho muito de perto as minhas áreas. O esporte, o combate às drogas... E busco aliviar o problema de
milhões de pessoas com Síndrome de Down no Brasil. Tenho a minha filha que é
uma princesa, a Ivy. Ela tem Down, mas tem uma vida cercada de carinho e
cuidados. É preciso ter dinheiro para que ela viva bem. Por que o governo não
oferece recursos. Essa é uma luta que peguei para mim até o resto da vida. Tornar
a vida dessas pessoas e das pessoas que as cercam viável. Hoje não é.
R - Você não está se destacando também
por falta de lideranças políticas no Brasil?
Romário - Eu concordo... Não temos líderes na
política brasileira. Depois que o presidente Lula terminou o seu segundo
mandato, ficamos sem. A presidente Dilma está ainda tentando, aprendendo a
exercer a liderança. Eu sempre tive essa minha personalidade forte, firme. Estou
usando a minha experiência de vida na política brasileira e está dando certo.
R - Você acha que acabou para o
ministro dos Esportes, Orlando Silva?
Romário - Acredito que empresas sérias como
revistas de circulação nacional, grandes jornais, as grandes tevês do País,
como a Record, Globo, SBT não iriam acusar um ministro sem provas. O Orlando
está se defendendo. As acusações são graves. Não tem como negar que sua imagem
foi abalada. Se ele não provar com toda a convicção que não tem nada a ver com
os escândalos, precisa sair. Falo isso sem nenhum interesse, até por que hoje
não tenho condições de ser ministro. Não estou preparado para isso. Talvez me
prepare no futuro. Mas hoje, não. Falo como cidadão que vê um ministro sendo
acusado de forma tão pesada, direta. Se ele não me convencer que não tem nada a
ver com isso, não deve ficar. Chega de gente sem condições morais ocuparem
cargos importantes neste país!
R - Qual o seu futuro, você quer ser
ministro dos Esportes ou se tornar presidente da CBF?
Romário - Olha! Soube que você teve informações que eu gostaria de ser presidente da CBF. Seguindo o caminho do Platini na Uefa. Vamos separar as coisas. Não tenho nada a ver com o Platini, sei que ele faz o seu trabalho na Uefa, só que ele não é meu ídolo. Nem nunca foi. Comandar o futebol brasileiro é algo que seria muito interessante. Há muita coisa errada.
Mas agora eu também não estou preparado para
isso, não. Sinto que estou em uma fase da minha vida que estou aprendendo
muito. Quem sabe, no futuro possa até brigar para presidir a CBF... Agora, não.
Eu quero me tornar cada vez melhor político. Fazer
o que puder para ajudar o Brasil a ter mais dignidade. Minha área sempre foi o
futebol. Minha vida toda estive ligado ao esporte. Estou em uma fase de
profundo trabalho e aprendizado. Quero me sentir pronto tanto para um dia
pensar na CBF. Ou quem sabe pensar no Ministério do Esporte. Por que não? Por
que fui jogador de futebol?
R - Você foi recebido com preconceito
em Brasília?
Romário - Olha, vou ser claro para quem ler
entender como as coisas são. Há o burro, aquele que não entende o que acontece
ao redor. E há o ignorante, que não teve tempo de aprender. Não houve
preconceito comigo porque não sou nem uma coisa nem outra. Mesmo tendo a rotina
de um grande jogador que fui, nunca deixei de me informar, estudar. Vim de uma
família muito humilde. Nasci na favela. Meu pai, que está no céu, e minha mãe
ralaram para me dar além de comida, educação.
Consciência das coisas... Não só joguei
futebol. Freqüentei dois anos de faculdade de Educação Física. E dois de moda. Sim,
moda. Sempre gostei de roupa, de me vestir bem. Queria entender como as roupas
eram feitas. Mas isso é o de menos. O que importa é que esta sede de
conhecimento me deu preparo para ser uma pessoa consciente... Preparada para a
vida.
E insisto em uma tese em Brasília, com os
outros deputados. O Brasil só vai deixar de ser um país tão atrasado quando a
educação for valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a
mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não
valoriza a Educação. E seus professores. Não há interesse de que a população
brasileira deixe de ser ignorante. Há quem se beneficie disso. As pessoas que
comandam o País precisam passar a enxergar isso.
A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a
Educação de um povo é muito mais.
R - Essa ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do Rio?
Romário - Você não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção. Os gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400 milhões. Foram gastos R$ 3,5 bilhões.
Vou dar um testemunho que nunca dei. Comprei
alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento. A melhor
coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente. Sabe por quê? A Vila
do Pan foi construída em cima de um pântano. Está afundando. O Velódromo
caríssimo está abandonado. Assim como o Complexo Aquático Maria Lenk... É um
escândalo! Uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Alguém ganhou muito
dinheiro com o Panamericano do Rio.
A ignorância da população é que deixa essa
gente safada sossegada. Sabe que ninguém vai cobrar nada das autoridades. A
população não sabe da força que tem. Por isso que defendo os professores. Não
temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado. E muito
menos para perceber a força que temos. Para que gente poderosa vai querer a
população consciente? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que este do
México. Não deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar.
R - Se o Pan foi assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...
Romário - Vou te dar um dado assustador. A presidente Dilma havia afirmado quando assumiu que a Copa custaria R$ 42 bilhões. Já está em R$ 72 bilhões. E ninguém sabe onde os gastos vão parar. Ningúem.
Com exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio
Grande do Sul e olhe lá...Pernambuco... Todas as outras sete arenas não terão o
uso constante. E não havia nem a necessidade de serem construídas. Eu vi onze
das doze... Estive em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo. Tem muita
coisa errada. E de propósito para beneficiar poucas pessoas. Por que o Brasil
teve de fazer 12 sedes e não oito como sempre acontecia nos outros países? Basta
pensar.
Quem se beneficia com tantas arenas
construídas que servirão apenas para três jogos da Copa? É revoltante. Não há a
mínima coerência na organização da Copa no Brasil.
R - São Paulo acaba de ser confirmado como a sede da abertura da Copa. Você concorda?
Romário - Como posso concordar? Colocaram lá três tijolinhos em Itaquera e pronto... E a sede da abertura é lá. Quem pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo? Não é por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do País.
Quando as pessoas poderosas querem é assim
que funcionam as coisas no Brasil. No Maracanã também vão gastar uma fortuna,
mais de um bilhão. E ninguém tem certeza dos gastos. Nem terá. Prometem, falam,
garantem mas não há transparência.
Minha luta é para que as obras não fiquem
atrasadas de propósito. E depois aceleradas com gastos que ninguém controla.
R - O que você acha de um estádio de
mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos. E entregue para um clube
particular.
Romário - Você está falando do estádio do
Corinthians, não é? Não vou concordar nunca. Os incentivos públicos para um
estádio particular são imorais. Seja de que clube for. De que cidade for. Não
há meio de uma população consciente aceitar.
Não deveria haver conversa de político que
convencesse a todos a aceitar. Por isso repito que falta compreensão à
população do que está acontecendo no Brasil para a Copa.
R - A Fifa vai fazer o que quer com o Brasil?
Romário - Infelizmente, tudo indica que sim. Vai lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil. É revoltante. Deveria dar apenas 10% para ajudar na Educação. Iria fazer um bem absurdo ao Brasil.
Mas cadê coragem de cobrar alguma coisa da
Fifa. Ela vai colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00. Só
porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada. É uma palhaçada!
As classes C, D e E não vão ver a Copa no
estádio. O Mundial é para a elite. Não é para o brasileiro comum assistir.
R - Ricardo Teixeira tem condições de
comandar o processo do Mundial de 2014?
Romário - Não tem de saúde. Eu falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão.
Ser presidente da CBF e do Comitê Organizador
Local é demais para qualquer um. Ainda mais com a idade que ele tem. Não deu
outra. Caiu no hospital. E ainda diz que vai levar esse processo até o final. Eu
acho um absurdo.
R - Muito além da saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações da Polícia Federal... Ele tem condições morais de comandar a organização Copa no Brasil?
Romário - Não. O Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa. Não até provar que é inocente. Que não tem cabimento nenhuma das denúncias. Até lá, não tem condições morais de estar no comando de todo o processo. Muito menos do futebol brasileiro...
Do blogueiro: Espera-se que o "Baixinho" seja realmente tão raçudo, corajoso, competente e responsável na Câmara Federal quanto foi dentro das quatro linhas, quando jogador que conquistou o título de "Melhor Jogador do Mundo" e ajudou a Seleção Brasileira a conquistar o Tetra Campeonato Mundial de Futebol.
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