sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O ex-jogador e deputado federal, Romário, abre as baterias e solta o verbo.

Romário de Souza Faria: Uma das esperanças de belos gols pró povo brasileiro.
Entrevista do ex-jogador e atual deputado Federal, Romário de Souza Faria concedida ao repórter Cosme Rímoli, da TV Record.

R - Vamos ser diretos: Como é que você como um deputado federal largou tudo para comentar o Pan? Você não deveria estar em Brasília?

Romário - Ótima pergunta. Eu vim ao México comentar futebol por que é viável. Não estou roubando ninguém. Posso ter licença sem remuneração como deputado federal. Como todos tiram. Estou trabalhando em várias frentes em Brasília. Visitei 11 estádios dos 12 que servirão para a Copa do Mundo no Brasil. Fiz projetos para amparar crianças e adolescentes com síndrome de Down. Estou empenhado nas luta contra a droga e em projetos de apoio aos dependentes químicos. Ajudo nos projetos para tentar tirar o crack das comunidades carentes. Trabalho demais. E tenho direito à licença não remunerada. Foi o que fiz. Vim para o México para fazer o que eu sei: comentar futebol pela TV Record. Vou passar a minha experiência de mais de 25 anos. Ficarei ausente 15 dias e não receberei por 30. 15 dias a mais sem receber dinheiro público. Por que acho justo. Tenho direito, mas é a minha maneira de compensar a minha ausência de Brasília. Todos os deputados federais exercem esse direito. Eu não posso por que sou o Romário? Não tem essa! Minha vida é transparente, limpa.
E vou dizer mais. Com o salário de deputado federal apenas, não consigo dar o conforto que a minha família merece. Por isso não serei hipócrita de dizer não a um trabalho que posso conciliar sem atrapalhar minha missão como deputado. Além disso, eu estou aqui no México, mas meus funcionários estão trabalhando em Brasília. E no meu escritório do Rio. O meu rádio não para de tocar. Não estou aqui de férias no México. Trabalho e trabalho pra c...! Sou honesto, limpo. Ninguém tem o que dizer de mim. Sai de licença sem remuneração para trabalhar por que tenho o direito.

R - Esta visão que muita gente tem de política é verdadeira? Nossos políticos são corruptos?

Romário - Vou ser bem sincero com você. Conheço para valer uns 20, 25 deputados em Brasília. Posso falar que pelo menos a metade não merece confiança. Tem gente séria, mas há muito pilantra por lá. Cada um segue o seu caminho. Descobri que é possível sim trabalhar sem se sujar com a corrupção. Sem receber 10% de comissão. Sem armar esquemas para receber propina. Não sou bobo e muito menos ingênuo. Sei o que acontece. Só se corrompe quem quer. A minha opção é trabalhar de forma honesta. Me encontrei na política. Peguei gosto. Sinto que há muito para fazer pelo País. Basta se empenhar, querer trabalhar.
Política não é só roubar, como querem alguns. Acompanho muito de perto as minhas áreas. O esporte, o combate às drogas... E busco aliviar o problema de milhões de pessoas com Síndrome de Down no Brasil. Tenho a minha filha que é uma princesa, a Ivy. Ela tem Down, mas tem uma vida cercada de carinho e cuidados. É preciso ter dinheiro para que ela viva bem. Por que o governo não oferece recursos. Essa é uma luta que peguei para mim até o resto da vida. Tornar a vida dessas pessoas e das pessoas que as cercam viável. Hoje não é.

R - Você não está se destacando também por falta de lideranças políticas no Brasil?

Romário - Eu concordo... Não temos líderes na política brasileira. Depois que o presidente Lula terminou o seu segundo mandato, ficamos sem. A presidente Dilma está ainda tentando, aprendendo a exercer a liderança. Eu sempre tive essa minha personalidade forte, firme. Estou usando a minha experiência de vida na política brasileira e está dando certo.

R - Você acha que acabou para o ministro dos Esportes, Orlando Silva?

Romário - Acredito que empresas sérias como revistas de circulação nacional, grandes jornais, as grandes tevês do País, como a Record, Globo, SBT não iriam acusar um ministro sem provas. O Orlando está se defendendo. As acusações são graves. Não tem como negar que sua imagem foi abalada. Se ele não provar com toda a convicção que não tem nada a ver com os escândalos, precisa sair. Falo isso sem nenhum interesse, até por que hoje não tenho condições de ser ministro. Não estou preparado para isso. Talvez me prepare no futuro. Mas hoje, não. Falo como cidadão que vê um ministro sendo acusado de forma tão pesada, direta. Se ele não me convencer que não tem nada a ver com isso, não deve ficar. Chega de gente sem condições morais ocuparem cargos importantes neste país!

R - Qual o seu futuro, você quer ser ministro dos Esportes ou se tornar presidente da CBF?


Romário - Olha! Soube que você teve informações que eu gostaria de ser presidente da CBF. Seguindo o caminho do Platini na Uefa. Vamos separar as coisas. Não tenho nada a ver com o Platini, sei que ele faz o seu trabalho na Uefa, só que ele não é meu ídolo. Nem nunca foi. Comandar o futebol brasileiro é algo que seria muito interessante. Há muita coisa errada.
Mas agora eu também não estou preparado para isso, não. Sinto que estou em uma fase da minha vida que estou aprendendo muito. Quem sabe, no futuro possa até brigar para presidir a CBF... Agora, não.
Eu quero me tornar cada vez melhor político. Fazer o que puder para ajudar o Brasil a ter mais dignidade. Minha área sempre foi o futebol. Minha vida toda estive ligado ao esporte. Estou em uma fase de profundo trabalho e aprendizado. Quero me sentir pronto tanto para um dia pensar na CBF. Ou quem sabe pensar no Ministério do Esporte. Por que não? Por que fui jogador de futebol?

R - Você foi recebido com preconceito em Brasília?

Romário - Olha, vou ser claro para quem ler entender como as coisas são. Há o burro, aquele que não entende o que acontece ao redor. E há o ignorante, que não teve tempo de aprender. Não houve preconceito comigo porque não sou nem uma coisa nem outra. Mesmo tendo a rotina de um grande jogador que fui, nunca deixei de me informar, estudar. Vim de uma família muito humilde. Nasci na favela. Meu pai, que está no céu, e minha mãe ralaram para me dar além de comida, educação.
Consciência das coisas... Não só joguei futebol. Freqüentei dois anos de faculdade de Educação Física. E dois de moda. Sim, moda. Sempre gostei de roupa, de me vestir bem. Queria entender como as roupas eram feitas. Mas isso é o de menos. O que importa é que esta sede de conhecimento me deu preparo para ser uma pessoa consciente... Preparada para a vida.
E insisto em uma tese em Brasília, com os outros deputados. O Brasil só vai deixar de ser um país tão atrasado quando a educação for valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a Educação. E seus professores. Não há interesse de que a população brasileira deixe de ser ignorante. Há quem se beneficie disso. As pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso.
A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a Educação de um povo é muito mais.

R - Essa ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do Rio?


Romário - Você não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção. Os gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400 milhões. Foram gastos R$ 3,5 bilhões.
Vou dar um testemunho que nunca dei. Comprei alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento. A melhor coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente. Sabe por quê? A Vila do Pan foi construída em cima de um pântano. Está afundando. O Velódromo caríssimo está abandonado. Assim como o Complexo Aquático Maria Lenk... É um escândalo! Uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Alguém ganhou muito dinheiro com o Panamericano do Rio.
A ignorância da população é que deixa essa gente safada sossegada. Sabe que ninguém vai cobrar nada das autoridades. A população não sabe da força que tem. Por isso que defendo os professores. Não temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado. E muito menos para perceber a força que temos. Para que gente poderosa vai querer a população consciente? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que este do México. Não deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar.


R - Se o Pan foi assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...


Romário - Vou te dar um dado assustador. A presidente Dilma havia afirmado quando assumiu que a Copa custaria R$ 42 bilhões. Já está em R$ 72 bilhões. E ninguém sabe onde os gastos vão parar. Ningúem.
Com exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e olhe lá...Pernambuco... Todas as outras sete arenas não terão o uso constante. E não havia nem a necessidade de serem construídas. Eu vi onze das doze... Estive em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo. Tem muita coisa errada. E de propósito para beneficiar poucas pessoas. Por que o Brasil teve de fazer 12 sedes e não oito como sempre acontecia nos outros países? Basta pensar.
Quem se beneficia com tantas arenas construídas que servirão apenas para três jogos da Copa? É revoltante. Não há a mínima coerência na organização da Copa no Brasil.


R - São Paulo acaba de ser confirmado como a sede da abertura da Copa. Você concorda?


Romário - Como posso concordar? Colocaram lá três tijolinhos em Itaquera e pronto... E a sede da abertura é lá. Quem pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo? Não é por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do País.
Quando as pessoas poderosas querem é assim que funcionam as coisas no Brasil. No Maracanã também vão gastar uma fortuna, mais de um bilhão. E ninguém tem certeza dos gastos. Nem terá. Prometem, falam, garantem mas não há transparência.
Minha luta é para que as obras não fiquem atrasadas de propósito. E depois aceleradas com gastos que ninguém controla.

R - O que você acha de um estádio de mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos. E entregue para um clube particular.

Romário - Você está falando do estádio do Corinthians, não é? Não vou concordar nunca. Os incentivos públicos para um estádio particular são imorais. Seja de que clube for. De que cidade for. Não há meio de uma população consciente aceitar.
Não deveria haver conversa de político que convencesse a todos a aceitar. Por isso repito que falta compreensão à população do que está acontecendo no Brasil para a Copa.


R - A Fifa vai fazer o que quer com o Brasil?


Romário - Infelizmente, tudo indica que sim. Vai lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil. É revoltante. Deveria dar apenas 10% para ajudar na Educação. Iria fazer um bem absurdo ao Brasil.
Mas cadê coragem de cobrar alguma coisa da Fifa. Ela vai colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00. Só porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada. É uma palhaçada!
As classes C, D e E não vão ver a Copa no estádio. O Mundial é para a elite. Não é para o brasileiro comum assistir.

R - Ricardo Teixeira tem condições de comandar o processo do Mundial de 2014?


Romário - Não tem de saúde. Eu falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão.
Ser presidente da CBF e do Comitê Organizador Local é demais para qualquer um. Ainda mais com a idade que ele tem. Não deu outra. Caiu no hospital. E ainda diz que vai levar esse processo até o final. Eu acho um absurdo.


R - Muito além da saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações da Polícia Federal... Ele tem condições morais de comandar a organização Copa no Brasil?


Romário - Não. O Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa. Não até provar que é inocente. Que não tem cabimento nenhuma das denúncias. Até lá, não tem condições morais de estar no comando de todo o processo. Muito menos do futebol brasileiro...


Do blogueiro: Espera-se que o "Baixinho" seja realmente tão raçudo, corajoso, competente e responsável na Câmara Federal quanto foi dentro das quatro linhas, quando jogador que conquistou o título de "Melhor Jogador do Mundo" e ajudou a Seleção Brasileira a conquistar o Tetra Campeonato Mundial de Futebol. 
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