quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Não há mais tempo


LEGENDAS: 1) Anos 1953 ou 54 na Rua Santos Ferreira, em Canoas-RS. De pé: Osmar Pagot, Lui e Paulinho Bohn e Clarinha Mahfuz. Agachados: Dirceo e Chico Pagot, Wanderley (Piquinho) Mahfuz, Bruno Pagot e Marco Antônio Mahfuz.

2) Ano de 1960, o time do E. C. São José "B", campeão, da Rua Frederico Guilherme Ludwig. De pé: Antônio Fogaça, Norma Ren, a Rainha do Clube Neusa Bernardes, Leonora Ren e Carlos Gilberto Vargas. Agachados: Ademir D´Arrigo (Polenta), Odir Bertoletti, Felipe Collares e Francisco Antonio (Chico) Pagot.


3) Anos 60, as meninas da rua Frederico Guilherme Ludwig, em foto na casa do casal João e Rosa Venhofen: Eliane Theisen, Neiva Bernardes, Ivone e Iris Droescher, Margarida, Renato Droescher, Cristina e Neusa Bernardes.

O ziguezague dos tempos, as correrias e os atropelos da vida de hoje, tempos supersônicos em que a tranqüilidade e a paz coletiva forçosamente deixaram lugar às guerras eletrônicas via satélite. Guerras programadas com tempo, que nos roubam o tempo. Tempos em que as bombas, os tiros e tudo mais acontece dentro de nossas casas, na nossa sala de jantar, sobre nossas mesas, durante o almoço ou mesmo o jantar, o que é ainda pior. Foguetes teleguiados, granadas e balas que explodem nas nossas caras, e à vida de inocentes, ingênuas e dóceis crianças, que tembém não têm mais tempo para ter tempo de brincar com a critividade, com os sonhos traduzidos nos caminhãozinhos e nas bonecas. Século vinte: crianças-robôs, adultos impessoais.

Tempo em que não há mais tempo para nada. Não temos mais tempo para a família, nem para os filhos e muito menos para os amigos. Cada dia temos menos tempo. Até mesmo para viver. Só nos resta uma réstea de tempo para sobreviver uma sobrevivência que nos toma todo o tempo. Assim, só teremos tempo para chegármos mais rápido ao fim. Temos muita pressa. Todo o tempo é de pressa. Passa. Agora não dá!

Vou falar em saudade. "E por falar em saudade ...", intrometo em meio a este meu filosofar, que para alguns poderá parecer uma perda de tempo, um espaço do tempo que o "poetinha" Vinícius de Moraes dedicou do seu tempo para o tempo de romancear, tempo de cantar, de amar e de viver. Disse ele: "Houve tempo ... e eu vos digo: havia tempo / Tempo para a peteca e para a soneca / Tempo para trabalhar e tempo para dar tempo ao tempo / Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto".

Ah! que saudade - e já vai longe - os tempos dos filós (os italianos e seus descendentes sabem bem o que é e o que representa o filó), quando se passava horas e horas conversando, cantando, enquanto se bebericava um bom vinho tirado diretamente da pipa, lá no interior de Garibaldi e Nova Prata, no fresco dos porões. (Não estou remetendo ao tempo da ditadura militar).

Ah! que saudades dos tempos juvenis em Nova Prata, ou já em Canoas, na rua Santos Ferreira, e mais tarde na Frederico Guilherme Ludwig. Eram manhãs/tardes/noites infindáveis de prazer. Prazer pelo jogar bola, pelo disputar do futebol de mesa, do pingue-pongue, do flerte com as meninas adolescentes da minha rua. Meninas que já ondulavam o corpo nun ziguezagueante molejo no andar. Um andar de requebros mais sensuais e insunuantes até.
Mas já não há mais tempo, nem mesmo para recordar. Estamos todos, todo dia, sem tempo. E o tempo que resta - se é que resta tempo - é de pressa. Na realidade sobrevivemos ao tempo da sobrevivência.

Pois é, não há mais tempo. Não há mais tempo para se brincar, para se jogar, para se descansar, conversar jogando conversa fora. Só há tempo para pouco tempo. Não há mais tempo para as amizades. Aliás, já desaprendemos como fazer e cultivar amigos. Os amigos, nesses tempos sem tempo, são conhecidos. Os amigos que ainda temos são os que ficaram. São os que se plantou e colheu em outros tempos

Haja tempo para tão pouco tempo. Tempo, ora bolas! O que é tempo se não um simples espaço de tempo, que a grande maioria não liga, não valoriza, não dá importância.
E quem terá hoje tempo para pensar e recordar os bons tempos?

E o tempo se vai. Se esvai. É, não há mais tempo. Aliás nesses tempos sem tempo, dei um jeito de arranjar um tempo. Um tempo para os amigos. Amigos, não conhecidos. Rebusquei no fundo do baú. E foi ótimo. E os amigos de tempos foram aparecendo num reencontro que há tempo eu desejava. Como foi bom e fez bem me encontrar com os amigos, ainda que por pouco tempo. Amigos que fui colecionando com o passar do tempo. E sabem a que horas fui arranjar esse tempo? A uma hora da madrugada. Aliás, um bom tempo para se ter tempo. Até porque lembrar é reviver. É ganhar com o tempo no passar dos anos.

Pois é! Foi tão bom que até tive tempo de relacionar os amigos um por um, e cada um a seu tempo. Amigos dos tempos de criança, tempos de adolescente e de alguns tempos mais recentes.

Tem que se ter tempo para falar tanto tempo. De tempo mesmo, e de se ter saco para escrever tanto tempo sobre algo que, para muitos, não representa nada: o tempo. Mas no final é confortante, pois, em se tratando de amigos, o tempo dedicado foi gratificante. Fez bem para o meu íntimo. Estufou o meu ego. Senti um enoerme prazer em reencontrálos a todos. A maioria ainda por aqui, talvez sem muito tempo também.

É importante que nesses tempos de vida atribulada, de corre-corres, de tempos em tempos se arranje tempo para curtir um tempo com os amigos. Hoje vivemos, todos, tempos de massificação, tempos novelescos e tempos de alienação que deixa um vazio no tempo.

Em falando nisso, por diversas vezes me perguntei porque será que a Igreja Matriz não tem em sua torre um relógio onde Canoas e sua gente pudesse ver o tempo? Mesmo que pelo simples fato de vê-lo passar. É quase uma tradição todas as principais igrejas de cada cidade terem um relógio na torre. Mas ainda há tempo!

Há que se refletir sobre a questão "Não há mais tempo". Não podemos ficar presos ao tempo, mas também não podemos esquecer de ter tempo para quem nos ligou no tempo. Pois amanhã poderemos estar literalmente sem tempo. E aí poderá ser tarde demais.

Há uma questão a ser colocada. Nesse tempo será que não perdi tempo? Ou, talvez, foi o tempo que me ganhou?

Bem, sem mais perda de tempo, nesse tempo sem tempo, tirei um tempo para lembrar dos amigos de tempos. Me dei ao tempo de relacioná-los um por um os que cultivei todo o tempo.
(Aí vem uma relação extensa, por isso não relacionada).

Aos meus outros amigos não lembrados nesse curto espaço de tempo, e por isso não citados, minhas desculpas, pois não há mais tempo. (Escrito em junho de 1991)

* Clique sobre as fotos para amliá-las.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Osvaldo Alvarez e o resgate da imprensa


Há dias que somos surpreendidos com fatos e feitos que nos fazem ver e sentir que vale a pena viver. E viver com intensidade e plenitude um tempo que passou - prá mim depressa demais. Recebi hoje do amigo e desembargador Osvaldo Moacir Alvarez um farto material que, por certo, enriquecerá ainda mais o livro A Imprensa de Papel (ainda no prelo), que para mim, até aqui, já estava concluído. É um livro, com material único, que aborda com boa propriedade a cronologia da imprensa canoense. O livro que, a exemplo do filme foográfico, registra o lado positio e o negativo. São registros, por momentos, narrados com visão otimista e por outro, com uma incontida crítica. Um trabalho iniciado pelo cineasta Antônio Jesus Pfeil, e que me repassou a responsabilidade de concluir e publicar.
Nesse trabalho, além da cronologia histórica, que inicia em 1909 com o registro do primeiro jornal que circulou em Canoas, "O Canoeiro", manuscrito, editado por Frederico Guilherme Ludwig e que circulava no "trem de ferro" ou Maria Fumaça, entre Canoas e Porto Alegre. No livro são resgatados também temas como todos os cronistas sociais que passaram pelos 84 jornais que Canoas tem e teve, cujo pioneiro foi Léo Medina Martins, em 1955, seguido do amigo e desembargador Osvaldo Moacir Alvarez. Ambos exerceram a crônica social na imprensa e no rádio com rara competência. Mais a quase totalidade, pelo menos os principais e mais atuantes, profissionais fotógrafos. E análises incentivadoras e pontiagudas.

Osvaldo Alvarez, que no intermeio da carreira profissional foi vereador, advogado e juiz federal, me agraciou com umas preciosidades de fotos, uma calhamaço de cópias dos originais da sua coluna, que era publicada no espaço "Zona Norte, Zona Sul", na hoje extinta Folha da Tarde. E, além disso tudo, uma entrevista sui generis, a qual respondeu por escrito, onde revela fatos que poucos cronistas sociais ou jornalistas tem coragem de fazer ou dizer: a relação das mulheres mais elegantes, outras de sucesso, as mais simpáticas, clubes de melhores realizações sociais, etc., assim como detalhes sobre o baile de escolha da primeira Glamour-Girl de Canoas, feito que teve a organização do ex-militar Anísio Lopes Ribeiro de Menezes, então diretor social da Associação Cultural Vasco da Gama.

Alvarez, na entrevista, foi além. Apontou, com sapiência e justeza, o Léo Medina Martins como o cronista social que mais o impressionou. E, por bondade e generosidade, teceu loas ao meu trabalho como cronista social e assim massageou meu ego. Cai das nuvens ao ler no final: "Xico Júnior! Em realidade, sem qualquer puxa-saquismo, ocupas um lugar de destaque na vida social canoense, porque, sem dúvida alguma, és o maior e o melhor cronista social da cidade em todos os tempos. Teu conceito ultrapassou em muito nossas fronteiras. Tu sempre serás o ponto de destaque em toda e qualquer pesquisa a ser feita em nossa cidade. É como digo: só há um Xico Júnior! Todos já tentaram imitá-lo. Nenhum obteve êxito".

Caro amigo Alvarez, levo em consideração e aceito tuas massageadoras referências à minha pessoa, primeiramente por ter acompanhado muito da tua carreira profissional e saber do ilibado comportamento e da sinceridade que sempre pautou as tuas atitudes, tanto na Câmara de Vereadores como no exercício do direito. E, em segundo lugar, porque nossa amizade tem raizes num tempo que, dada a realidade de hoje, nos enche de saudades e nostalgia, mas que, com a melhor coinsciência, era um tempo de lealdade, de franqueza e de uma solidária cordialidade. Um tempo em que se podia desfrutar de pessoas e amigos, como você meu caro Alvarez, cuja educação, respeito e senso humanitário os tornavam verdadeiros gentlemen.

Reprisando um autor que desconheço, a recíproca é verdadeira!
* Clique sobre as fotos para ampliá-las.