sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Fumo faz mal, sonegação e corrupção matam

A lição do investigador: sem sombra ou “fumaça” de dúvida.

Astucio Cappotta já não suportava mais a hipocrisia e o cinismo que vinha massificando e fazendo lavagem cerebral nas pessoas, através da chamada grande mídia. Mídia essa, perscrutrara ele, que também cometia os mesmos crimes de "lesa-pátria" praticados pelos chamados sonegadores, corruptos, estelionatarios, falsificadores, etc.

E eis que num certo evento social encontrava-se o investigador Astucio Cappotta, com seu estilo meio que desleixado, sem muito aprumo - jamais seria eleito como um dos mais elegantes - e lá, retirado do grupo, excluso, tragava tranqüilamente seu habitual cigarro, hábito que cultiva desde o tempo em que fumar era símbolo de machismo e atitude de elegância, quando aproximou-se um tradicional e bem sucedido (?) empresário, um líder da pequena cidade de Canastra, atolado em vício e crimes de “lesa pátria”, lembrando que, por sua vez, também tem o hábito de cachimbar e fumar charutos, e foi logo tripudiando sobre o simplório, mas nada submisso, investigador:

- “Ô, Astucio, pára de fumar. Não vê que cigarro faz mal prá saúde? E pior, tu tá poluindo o ambiente com esse teu mal cheiroso cigarro”.

Astucio, que não era lá dado a prazenteios e nem de guardar as coisas, não sabia e nem aprendera a técnica de “engolir sapo” como habitualmente justificam os “tartufos” políticos praxistas, quando lhes interessa não contestar para logo adiante obter vantagens, lascou, sem dó nem piedade, como se num palanque, púlpito ou tribuna, porém em meio tom, posto que o velho e tradicional empresário também atolara-se no vício de cachimbar (ou cachimbo não é uma forma de fumar, uma forma de “se matar” com o tabaco? pensara Astucio lá com seus botões desbotados), e de súbito surpreendeu:

- “O cigarro, senhor, faz mal à saúde, sem dúvida. Mas faz menos mal à saúde do que a crescente gama de crimes de sonegação, que nada mais é do que uma forma praxeira e sutil de referir-se aos crimes de apropriação indébita, que levam a grande maioria ao enriquecimento ilícito e daí a esnobação para com os socialmente menos ousados e não dados à prática de crimes de “lesa pátria”. A sonegação, senhor, e repito, que é um crime hediondo, posto que permite que muitos roubem o dinheiro do contribuinte, acaba causando a morte de milhares e milhares de pessoas por falta de recursos nos setores da saúde, falta de recursos, senhor, para os medicamentos, a construção de mais hospitais públicos, o aumento do número de leitos, de medicamentos aos necessitados. Falta de recursos para a aquisição de mais e modernos aparelhos de assistência médico-hospitalar. Enquanto muitos, senhor, ficam aí fazendo demagogia sobre o que se tornou uma síndrome em nosso espoliado Brasil, o obediente e pontual povo brasileiro está a merecer maior atenção dos que se dizem autoridade. Está sendo esbulhado pelos seus “lídimos representantes”, em escândalos que envergonham e enlameiam a dignidade de um povo e de uma Nação, em todos os níveis, e cada vez mais impunes. Isso, senhor, é que faz mal à saúde. O cigarro é apenas um mero pretexto a desviar a atenção dos problemas maiores como os crimes de sonegação (repito, crime de apropriação indébita), tão grave e nefasto quanto a corrupção, estelionatos, golpes financeiros, trapaças mil, estes todos tratados como se não graves, posto que são classificados como crimes do colarinho branco, como se esses criminosos não devem ser punidos da mesma forma como é punida uma senhora que se apossa de uma latinha de margarina em supermercado.

Então, senhor, antes das pessoas reclamarem e quererem dar “moral” aos outros, usando como modelo o cigarro (cachimbo, charuto e cigarro todos se originam do tabaco), seria importante que as pessoas se conscientizassem dos grandes malefícios que toda essa gama de “crimes de lesa-pátria”, assim como a poluição ambiental provocada por ônibus, caminhões e camionetas, fundamentalmente, que se utilizam de óleo diesel, e os automóveis, de gasolina, se exigisse que parassem de circular. Que se obrigasse, por leis exdrúxulas, como é praxe neste culturalmente empobrecido Brasil, as indústrias de funcionaram com seus altos chaminés, que exalam na fumaça gases letais como enxôfre, mercúrio, metano, etc., ou com descargas de uma gama imensurável de poluentes jogados nos arroios e rios. E assim, que todas parassem de funcionar.

Depois que isso acontecer, senhor, serei o primeiro a parar de “matar os outros por tabela” pelo hábito de fumar, como apregoam os “maria vai com as outras”. Enquanto essa hipocrisia perdurar e o governo continuar cobrando os impostos sobre a produção e o consumo do tabaco, e as indústrias das mais diferentes formas continuarem a poluir expelindo gases venenosos, cancerígenos e letais à vida do homem e da natureza, e produziem enlatados cheios de venenos (conservantes, corantes, aromatizantes, etc), que me perdoem os idiotas, vou continuar fumando.

E se é, senhor, como cinicamente dizem, que a fumaça do cigarro de quem fuma contagia os outros, tenho a lhe revelar que, além de patriota (pois me sacrifico em favor da manutenção da sobrevida dos plantadores de fumo, da garantia de empregos nas fábricas de produtos originários do tabaco e da arrecadação de impostos pelo Governo - se não existir impostos, como fariam os políticos para praticarem corrupção?), não sou egoista. Portanto, se um dia eu partir desta para outra melhor (espero, porque aqui não está nada fácil), faço questão de levar os amigos comigo. E o senhor será meu parceiro nessa empreitada.

- Ah, antes de terminar, uma salutar sugestão, se me permite: Combata aberta e amplamente a escalada da corrupção e pára de sonegar! Isso faz muito, muito mal à saúde do povo brasileiro!

O experiente e “bem sucedido” empresário, sem jamais esperar por esse “rosário de moral e comportamento desse tamanho”, olhou o investigador Cappotta, e sem jeito e, quiçá, com a consciência já roubando-lhe o “sono dos anjos”, retirou-se sem sequer dizer qualquer palavra.

No fundo, é bem provável, sabe que o cigarro faz mal à saúde, sim, mas sabe melhor que o dinheiro público que é surrupiado através das mais diferentes práticas ilegais, faz muito, muito mais mal à saúde do povo, como ensinou em sua longa oração Astúcio Cappotta, sem qualquer sombra ou “fumaça” de dúvida.

O resto é puro mis-en-scène da gama infindável de tartufos (a paersonagem de Molière), enquanto a grande maioria, a massa de manobra, se comporta como autênticos Pangloss (personagem de Voltair).

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