sábado, 16 de julho de 2011

Internet: O canal que faz-de-conta que temos amigos

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Constata-se cada dia mais a falta de diálogo entre as pessoas, o que expressa um certo egoismo. Uma amizade muda, calada, silenciada e desimportante até certo ponto. A internet veio como um veículo para aproximar as pessoas, encontrar e contatar com os amigos por mais distantes que posam estar, porém os contatos limitam-se a PASSAR ou REPASSAR mensagens de terceiros via vídeos, slides ou até mesmo mensagens copidescadas para a versão online. E tudo parece ser uma demonstração clara e explícita de amigos, quando na realidade pouco ou nada traduz a informação e um diálogo. Apenas um monólogo utilizando manifestações terceirizadas, sem uma maior aproximação, uma intimidade  e um calor humano como seria num tête-à-tête (conversa privada entre duas pessoas).

Estamos, dessa forma, perdendo a nossa própria personalidade, a nossa identidade, a nossa auto-estima e os sentir de um sentimento tão valioso e imprescindível para as nossas vidas, pois ninguém vive sem amigos. Ninguém consegue ser feliz sendo um solilóquio ou um heremita. Urge que voltemos a sermos nós mesmos, plurais na forma de viver e conviver, sem sentir a necessidade se recorrer ou rebuscar a opinião ou a expressão de terceiros para demonstrarmos nossos sentimentos de amor, de bem-querer, de amizade ... mas uma amizade verdadeira, autêntica e legítima na sua forma de expressão.

Já vai longe o tempo em que as pessoas dialogavam, trocavam confidências e experiências, manifestavam claramente seus sentimentos, suas emoções, suas alegrias e tristezas, seus feitos, suas conquistas. Enfim, o partilhamento de suas vidas. Se visitavam ou se reuniam em frente das casas quando conversavam sobre os mais diferentes assuntos, rebuscavam amigos e parentes de tempos que ficaram em outras cidades, e tudo gerava saudades. Uma saudade original, legítima, que se podia ver estampada em cada rosto dos amigos ali reunidos. Isso acontecia entre rodadas de chimarrão ou um bom e bem servido café, que aquecia as almas e as lembranças, enquanto mergulhavam cada vez mais na afirmação dos laços de amizade. Sem pieguismo ou nostalgia exacerbada, eram - e foram -, inspirados na canção de Roberto Carlos, os "bons anos, belos dias", expressão que dá título a um dos meus livros concluído e aguardando viabilidade à publicação, onde rebusco, nostalgicamente, aqueles verdoengos anos. Sim, porque o verde habitava em todos os pátios das casas, das ruas e vilas (hoje chamam de bairro).

Hoje os amigos restam poucos, pelo menos para um papo tête-à-tête, já que um rol bastante significativo já desfalcou o grupo, enquanto outros se acomodaram em suas casas como borboletas no casulo. Pois é, na atualidade nem mesmo, pelo menos na quase totalidade dos casos, há uma resposta, um gesto de agradecimento ou de gratidão pela lembrança, uma palavra (escrita) que soe presença, que transpire amizade, mas tão somente o silêncio como se tais gestos não tivessem uma maior importância na vida de cada um. O que será da internet ou das redes de comunicação se não houver respostas, diálogo, uma comunicação recíproca como se ambos os, digamos, interlocutores internéticos estivessem frente a frente num bate-papo amistoso e descontraído.

Hoje as atitudes parecem me dizer que os amigos perderam para as novelas desestruturadoras da célula familiar, para os programas repletos de babaquices e baixarias que as televisões insistem em apresentar como algo da maior importância e criatividade. Os amigos estão sendo deixados de lado por um fanatismo exacerbado pelo futebol, pela incompreesível tendência ao corpo "sarado" (?), e pela incontida pressa que nem mesmo as pessoas sabem exatamente o porque e por quê.

A aparente indiferença ou o distanciamento vem tornado as pessoas cada dia mais frias, mais egoístas, menos confiantes e confidentes. Paira no ar um senso de suspeição manifesta pelo silenciar ao se receber ou enviar um e-mail ou torpedo. Um aparente descaso, uma desimportância ou, quando mais apenas um "obrigado", um "legal!", "muito bom", "lindo", etc.

Isso me faz parecer que em lugar de conversar com um amigo, que encontro por um acaso ou por termos combinado o encontro, em lugar de um agradável, amigável e descontraído bate-papo sobre nossas vidas, seja no passado ou presente, eu levasse um livro de contos, ou de mensagens sobre o amor, a esperança, o otimismo, a fé, ou até mesmo de poesias e lesse o que está no livro ao invés de dialogar, de conversar com o amigo. Com a melhor certeza não haveria amigo que teria saco prá aguentar tamanha ousadia e indiferença.

E, assim, vem acontecendo com a comunicação via internet, seja em que tipo de meio que integra a ampla rede de comunicação social internética. O mundo, as pessoas precisam entender a fundamental necessidade e importância que há no se dialogar, no se comunicar, ainda que via internet, de forma mais pessoal, mostrando, de fato, que do outro lado está um amigo ou amiga que apreciamos e gostamos verdadeiramente.

Apenas o passar ou repassar mensagens em vídeos ou slides ditas ou escritas por terceiros não traduz nossos sentimentos de amizade, da verdadeira amizade. E o silêncio, a mudez internética torna a amizade cada vez mais um sentimento frívolo, desinteressante ou um tanto-faz.

É preciso, e isso é da melhor essência, que voltemos a aprender a nos comunicar, a conversar com mais liberdade para aproximarmo-nos dos nossos amigos. E vice-versa. Só assim estaremos fortalecendo e revigorando os verdadeiros e reais laços de amizade, de fraternidade, de humanidade entre as pessoas, bem como a conquista de novos e leais amigos. Do contrário, como vem acontecendo, serão apenas mais um ADD em nosso amplo e largo rol na rede de relacionamentos. A internet e os modelos da hipocritamente dita evolução, propalada pela malfadada globalização, nos tem tornado pessoas sem personalidade, indvíduos sem opinião e expressões próprias, seres humanos sem sentimentos onde o calor e a vida se manifestam de maneira espontânea.

Fico, cá com meus atordoados botões, me questionando: será que a amizade é apenas um sentimento expressado romântica ou poeticamente? Ou será que mataram ou estão matando a amizade de fato? São dúvidas que às vezes o silêncio das conversas de hoje, em especial via internet, parece me dar a resposta.

Ou mudamos nossa maneira de ser para com os amigos, sendo plurais na forma de se manifestar ou a amizade será algo que somente os saudosistas, os nostálgicos irão lembrar o quanto de significado e importância ela tem na vida de cada um dos seres humanos.
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